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 Gandhy Piorski e os “Brinquedos do Chão”

 Gandhy Piorski e os “Brinquedos do Chão”

É a criança que brinca imaginando ou é a imaginação que brinca a criança?

O questionamento acima foi feito por Gandhy Piorski. A partir desta pergunta, o maranhense nascido no município de Codó, passou a pesquisar a infância e o brincar na natureza 20 anos atrás.

Gandhy Piorski/ Foto: Igor Amin (Serra Grande/Outubro 2022)

Artista plástico, teólogo e mestre em Ciências da Religião, pesquisador nas áreas de cultura e produção simbólica, antropologia do imaginário e filosofias da imaginação (Ufa! ♡), Gandhy é autor do livro Brinquedos do Chão, da Editora Peirópolis. E é este o assunto do nosso post de hoje! 🙂

Vem com a gente!

Primeiramente, se você ainda não conhece o livro, leia a sinopse antes de prosseguir a leitura para se inteirar mais:

Este livro inaugura uma série que explora a imaginação do brincar e sua intimidade com os quatro elementos da natureza: terra, fogo, água e ar, e revela a voz livre e fluente da criança em sua trajetória de moldar a si própria, tão esquecida nos estudos sobre a infância. Assim como o brinquedo, interessam ao autor, artista plástico, teólogo, pesquisador da infância e do imaginário, a brincadeira e seu universo simbólico; a experiência da criança quando, em comunhão com a natureza e em sua vivência transcendente, brinca e significa o mundo. O primeiro volume é dedicado aos brinquedos da terra, que caracterizam, na produção material, gestual e narrativa da infância, a investigação da matéria e as operações da imaginação no forjar a elaboração e o enraizamento dos papéis sociais na casa, na família e no mundo. O estudo desdobrou-se também em várias exposições de brinquedos colecionados ao longo dos anos, e seu corpo teórico vem repercutindo em diferentes espaços em que a criança é tema de interesse.

“As crianças gostam de saber o que tem dentro, saber o que é a vida das coisas. E ela se manifesta no imaginário como uma coisa oculta, que está na entranha da matéria. Então, as crianças precisam quebrar, abrir, investigar. Porque o oculto é a alma de tudo.”

Gandhy Piorski

No loja online da Editora é possível ler uma amostra do livro. O link é este: https://digital.editorapeiropolis.com.br/epub-amostra/?id=42

O documentário abaixo, Gestos do Chão, produzido pela Maria Farinha Filmes, é um material maravilhoso complementar ao livro Brinquedos do Chão. A partir de depoimentos de um permaculturista, um arquiteto e um coreógrafo, o filme aborda como a paisagem, a matéria e o gesto do brincar fundamentam na criança noções matriciais de pertencimento e identidade.

https://www.youtube.com/watch?v=ivwc7KAC_Zg

“A imaginação é a verdade da criança. Para alcançarmos a criança, devemos compreender que a imaginação é um mundo.”

Gandhy Piorski

A série ‘Diálogos do Brincar‘, correalizada pelo Projeto Território do Brincar e pelo Instituto Alana, traz uma videoconferência com o tema ‘Criança e Natureza‘ e participação de Gandhy Pioski. Confira abaixo:

https://www.youtube.com/watch?v=L4u8pnqMkQQ

Em entrevista dada ao Instituto Alana (organização de impacto socioambiental que promove e inspira um mundo melhor para as crianças) em 2016, quando o livro foi lançado, Gandhy diz que a brincadeira da terra é uma brincadeira de estrutura. A criança busca a inteireza, a concretude da vida, quer compreender os materiais no todo e manifesta isso nos seus fazeres. O autor diz ainda que no livro fala sobre as investigações do oculto: abrir os animais para ver o que tem dentro, cavar a terra, a brincadeira de esconde-esconde. Esses momentos revelam o fascínio do encontro.

“Em outras palavras, a criança tira os véus da vida para poder criar intimidade e se aninhar com o mundo, bem como conhecer os fundamentos de todas as coisas e a terra permite essa descoberta.”

A íntegra da entrevista você pode acessar no link a seguir: https://alana.org.br/gandhy-piorski/

Divulgação Editora Pierópolis

A Nova Escola, plataforma digital que produz reportagens, cursos autoinstrucionais, formações, planos de aula e materiais educacionais para fortalecer os professores brasileiros, também conversou com Gandhy sobre os efeitos da quantidade de brinquedos que as crianças têm hoje em dia. E ele defende que “Brinquedos prontos levam à passividade”. Para uma das maiores referências em brincadeiras e infância o contato com a natureza ajuda, mas acendemos mais campos de percepção da criança quando conhecemos melhor o diálogo dela com o meio.

Gandhy acredita que “o desenho da escola deve ser perto dos passarinhos, das árvores, do chão e do barro, se aproximar da intimidade e do aconchego da casa da avó, dos celeiros de ferramentas e do trabalho manual. Deve ter diversidade de materiais e banir o medo de que alguém vai se ferir. O material completo você acessa aqui.

“São brinquedos da terra todas as representações ou mimeses da vida social. As brincadeiras de casinha e as de cabana, de fazendinha e de animais construídos, de boneca, de carroça, de carrinhos, incluindo os carros de boi, de madeira, de vara e de lata, de miniaturas, os brinquedos de modelar, as representações de casamento, nascimento, trabalho e beleza, os rituais de morte e os festejos religiosos, brinquedos e brincadeiras das entranhas de animais e plantas, feitos de ossos e seivas…”

Gandhy Piorski

Para encerrar o conteúdo, olha que incrível. Em 2016, Gandhy Piorski abriu as portas do seu ateliê em Fortaleza para 1300 crianças. E, juntos, construíram mais de 1700 brinquedos — parte deles foi exposta em São Paulo. Os brinquedos foram criados a partir dos resíduos de fábricas e empresas.

“Mapeei mais de 20 mil objetos de sucata industrial da região metropolitana de Fortaleza, e os coloquei em um ateliê. Entre elas havia roldanas de nylon, peças de máquinas, lâmpadas queimadas de automóveis, cooler de notebooks, chips, teclados, freios de bicicleta e fios de telefonia”, lembra o artista. “Um universo de objetos novos com os quais as crianças não estavam familiarizadas.”

“O interessante é que isso é um trabalho de reciclagem não apenas no sentido de apenas de transformar o lixo em algo útil. Mas uma reciclagem no sentido de que a criança pode entrar em contato com a matéria do trabalho humano e criar suas narrativas sobre a quantidade de produtos produzidos pelas indústrias, sobre o excesso de resíduos. É um trabalho que abre a perspectiva de uma reeducação sobre consumo e mostrar à criança que ela pode criar para brincar, e não comprar para brincar”, observa o artista em entrevista dada ao SP Cidade Gentil.

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